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3/30/2010 - GP da Austrália 2010 – Agora sim


Já que a FIA não consegue trazer emoção para a Fórmula 1, o acaso resolveu dar uma mãozinha. A chuva que caiu pouco antes da largada fez com que todos os pilotos se alinhassem no Grid com pneus intermediários, anulando a regra absurda de se obrigar a usar 2 compostos de pneus para seco durante a corrida. Isso nos brindou com estratégias diferentes e, conseqüentemente, muitas trocas de posições. Dito isto, vamos analisar o desempenho de cada equipe e piloto:

McLaren: Por possuir 2 pilotos com características completamente diferentes, a McLaren se deu melhor. E como a estratégia falou mais alto, o piloto mais inteligente venceu a corrida. Button é reconhecidamente um piloto rápido, cerebral, constante e que não faz besteiras. Uma vez liderando uma corrida dificilmente cede a posição. Sabe poupar equipamento como ninguém na F1 atual. Raramente trava pneus, se é que chega a travar. Mereceu a vitória já na Qualificação, quando beliscou um belíssimo 4° lugar no Grid, se infiltrando entre os 2 líderes do campeonato e sendo muito superior a Hamilton que só largaria na 11ª posição. Hamilton, por outro lado, é afoito, inconstante e faz muitas besteiras. Seu cérebro parece entrar em parafuso quando a situação exige decisões rápidas ou improvisações. Sim, é bonito de se ver. É sempre garantia de emoções fortes. Mas é pouco efetivo. Enroscou-se com Mark Webber em diversos momentos da corrida e embora tivesse o carro mais veloz em reta, o que facilitava muito as ultrapassagens, no final não conseguiu superar Alonso que estava com os pneus em frangalhos e era 2 segundos mais lento por volta. Um último incidente com Webber o jogou para a 6ª posição e por lá ficou. Depois da corrida sapateou e deu piti, creditando a derrota a um erro de estratégia da equipe e se esquecendo que seu estilo de guiar, fritando pneus em toda freada, certamente inviabilizaria a decisão de ir até o fim com os pneus macios colocados na volta 8. Na China, em 2007, já tinha nos dado um exemplo de como estuprar os pneus e perder uma corrida por isso. Ele deve agradecer muito ao fato de só existir uma fornecedora de pneus e mais ainda à estupidez da FIA por criar uma regra que obriga o piloto a trocar pneus mesmo sabendo que até os macios agüentam uma corrida inteira nas mãos de quem sabe guiar. Mas apesar de tudo Hamilton merece elogios. Afinal, se todo o Grid fosse composto apenas por pilotos como Button (ou Prost, Damon Hill, Mario Andretti, Jack Stewart, Emerson Fittipaldi, entre outros que colocaram seus nomes na história da F1 por serem constantes e cerebrais) as corridas ficariam carentes de emoções. Por isso sempre foram bem vindos nomes como Clark, Peterson, Gilles Villeneuve, Keke Rosberg, Mansell e, na falta de alguém melhor, Lewis Hamilton.

Renault: Kubica dispensa comentários. O carro da Renault é pior do que pelo menos 10 carros de 5 outras equipes. Mesmo assim o polonês está sempre no Q3 e correndo por pontos. No Bahrein, após ser prejudicado por um acidente que o jogou para o fim do pelotão, foi subindo até encostar na zona de pontuação. Agora na Austrália mostrou que qualquer imprevisto que ajude a nivelar o equipamento o deixa em condição de destaque. Um 2° lugar merecidíssimo, após uma tocada constante e sem erros. Mesmo tendo que suportar algumas pressões de carros mais rápidos em alguns momentos da corrida. Já Petrov foi mal tanto na Qualificação quanto na corrida, quando rodou e abandonou. Não compromete ainda, por ser rookie total. Tem pelo menos até a metade da temporada para aprender e mostrar algo de bom além da simpática mãe que o acompanha atentamente dos boxes.

Ferrari: Não se pode dizer que as coisas vão mal na Ferrari. A equipe lidera o campeonato de construtores e os ocupantes de seus cockpits são líder e vice-líder do campeonato de pilotos. Só não está perfeito porque o carro é certamente mais lento do que a RBR e no máximo se equipara à McLaren, esta última porém levando larga vantagem em velocidade de reta. Ao contrário do Bahrein, em Melbourne o 3° e o 4° lugares vieram mais graças à quebra de Vettel e às besteiras de Webber do que qualquer outra coisa. Alonso largou mal, se meteu em confusão quando jogou o carro para cima do Button e teve muita sorte de ficar virado ao contrário no meio de uma curva e não ser atingido por ninguém do vasto pelotão de novatos. Depois disso teve que fazer uma corrida de recuperação e chegar ao 4° lugar foi o melhor que poderia ter feito, com uma pequena ajuda de Hamilton e Webber. Felipe Massa, por outro lado, largou muito bem e chegou a ocupar a 2ª colocação atrás apenas de Vettel. Na parada para colocar slicks a Ferrari fez lambança mais uma vez e o devolveu para a pista atrás de Kubica. Mesmo assim não há muito o que reclamar. É seu primeiro pódio em Melbourne, circuito que definitivamente ele não gosta de guiar, não tem a mão. A prova disso foram os 7 décimos atrás de Alonso na Qualificação, muito embora isso não tenha refletido tanto no Grid pois fora o 5° colocado e Alonso o 3°. Na corrida foi quase sempre mais lento do que os concorrentes diretos, mas teve perícia e coragem suficientes para segurar Alonso que vinha babando atrás. Uma situação interessante que o coloca com 33 pontos na tabela atrás apenas do espanhol com 37. Está na briga. Vamos ver quando é que a situação interna da equipe vai começar a balançar.

Mercedes: Nico Rosberg continua andando mais do que Schumi. Mas, como previmos, a diferença vem caindo. No Qualy o alemão ficou apenas 0.043s atrás de Rosberg e não é nenhum absurdo acreditar que na corrida já teríamos uma inversão. Schumacher largou muitíssimo bem e já estava tomando a curva 1 à frente de Alonso e Button, situação que o colocaria em 4° lugar , quando foi tocado pelo carro do espanhol que rodava. Um bico trocado no final da 1ª volta o jogou lá para trás e com um carro menos veloz em reta ficou preso no tráfego. Uma pena pois a corrida estava na medida para seu estilo de pilotagem e os jogos de estratégia de Ross Brawn. No final, 10° lugar e 1 pontinho conquistado. Nico chegou em 5° e beliscou 10 pontos. Mas a bem da verdade nenhum dos dois brilhou.

Force India: Adrian Sutil outra vez se qualificou bem, entrando no Q3. Parece que estar ali no meio dos tops é seu lugar. Mas na corrida, repetindo Bahrein, teve azar logo no início. Um enrosco o jogou para o fim do pelotão e um motor estourado terminou de vez com suas pretensões após 9 voltas. Já Liuzzi continua brilhando. Saiu de 13° no Grid para chegar a um honroso 7° lugar e conquistar mais 6 pontinhos para a equipe. Aplausos para o italiano.

Williams: Nico Hulkenberg foi discreto na Qualificação e sequer completou a primeira volta da corrida, sendo surpreendido pelo desgovernado Kobayashi. Quase não há o que dizer. Barrichello se qualificou muito bem, em 8° lugar à frente de Kubica e Sutil. Na corrida foi apagadíssimo, e já não existe mais tanta gente por aí que acredita na conversa fiada de que Rubinho é bom de chuva. Enquanto Kubica se aproveitou da pista escorregadia para tirar a diferença de equipamento e levar sua Renault ao pódio, Barrichello chegou apenas em... 8°, mesma posição de largada. Até que não soa tão ruim, mas considerando que vários pilotos à sua frente no Grid tiveram problemas (Vettel, Schumacher, Webber, Alonso...) o 8° lugar significa dizer que fez uma corrida fraca.

RBR: Vettel sobrou novamente, repetindo Bahrein. Tanto na Qualificação quanto na Corrida, enquanto seu carro permitiu foi o melhor piloto na pista. Imbatível, chegando a quase humilhar os concorrentes. Mark Webber sempre era tido como um piloto rápido que massacrava os companheiros de equipe. Com Vettel a estória é bem diferente. Estranho é o fato do carro do alemão estar quebrando em todas as corridas. E quebrando coisas tolas, pequenas, displicentes, enquanto o carro do Webber age como um tanque de guerra, jamais provocando um abandono apesar de um certo abuso do australiano. De qualquer maneira, é bom a RBR acordar e resolver isso logo. Com tantos pontos em jogo, Vettel já está 25 atrás do Alonso. Não pode bobear mais.

STR: Buemi se qualificou em 12°, logo atrás de Hamilton. Jaime Alguersuari em 17°. Buemi até que prometia fazer uma boa corrida, pois a situação era propícia para seu talento e razoável experiência. Mas ele foi mais um prejudicado pelo foguete assassino de Kobayashi logo na 1ª volta. Fim de prova e muita frustração. 2010 não está muito bom para o suíço. Alguersuari até que teve seu papel de destaque na corrida, que foi segurar Schumi por incontáveis voltas. No final o alemão levou a melhor e roubou o ponto que seria do espanhol. Paciência! A diferença ali, de carro, de experiência e de talento era grande e o final não poderia ter sido outro.

Sauber: Kobayashi já está começando a dever. Depois da promessa do final de 2009 começa a se mostrar um piloto comum, nem pior e nem melhor do que outros japoneses que o precederam. Em 2010 ainda não bateu o mediano De La Rosa na Qualificação, e em corrida tem sido ainda pior. Sua reputação está se complicadando. Precisa mostrar serviço urgentemente para não cair de vez. Já o espanhol chegou a ocupar a zona de pontuação por quase toda a corrida, até que os pneus desgastados num carro instável o derrubaram para o 12° lugar. E foi isso.

Lotus: Kovalainen, aquele que estragou a carreira ao aceitar ser 2° piloto de Hamilton na McLaren, está provando que sabe guiar. A Lotus, embora seja a melhor das 3 equipes estreantes, é um carro muito lento para o piloto exibir suas habilidades. Mas é notório o controle do finlandês, que a exemplo de Bahrein levou seu carro até o final, no limite de suas pretensões, ocupando o 13° lugar. Trulli, por sua vez, teve problemas no carro e sequer largou.

Hispania: A mais lenta das equipes já não é a mais fraca. Afinal Karun Chandhok conseguiu cumprir aquele que é o principal objetivo de uma equipe estreante, que é chegar ao final de uma corrida. O indiano mais uma vez surpreendeu se qualificando a apenas 0.087s de Bruno Senna, cujo sobrenome e mais uma penca de patrocinadores o colocam incontestavelmente como 1° piloto da equipe. Vale ressaltar que durante a maior parte dos 20 minutos da Q1 Chandhok superou Senna, só sendo invertida a situação nos segundos finais, e por milésimos. Considerando que Senna é um bom piloto por trás de um sobrenome e o indiano apenas um “quem é?”, o feito é digno de elogio. Mais notável ainda foi o fato de guiar um carro extremamente lento por toda a corrida e não ser xingado por ninguém. Por várias vezes o vimos quase parar para dar ultrapassagem, todas em lugares estratégicos e bem escolhidos. Pilotos e chefes de equipes reparam nesse tipo de atitude e assim Chandhok pode estar começando a construir uma carreira que a princípio parecia despretensiosa. Sobre Bruno, ainda não mostrou nada que pudesse impressionar, tanto positivamente quanto negativamente. Perece ter personalidade e caráter, mas isso apenas não basta para um piloto brilhar na F1.

Virgin: Sim, podemos dizer que é a equipe mais fraca. Embora Timo Glock tenha se qualificado com tempo 1 segundo inteiro mais rápido do que Senna e Chandhok, Lucas Di Grassi ficou apenas 4 décimos à frente da dupla da Hispania. Na corrida ambos abandonaram, com Di Grassi indo até a volta 26 e Glock até a 41. Aliás, o brasileiro começa a decepcionar. Embora tenha tido um momentum quando deu um xis temporário em Schumacher, no geral está sempre tomando tempo do Glock. Mr. Richard Branson resolveu brincar de ser dono de equipe, mas se esqueceu de construir um carro de verdade. E se depender do sorriso do magnata a coisa vai continuar assim. Afinal ele é mais um bon vivant do que qualquer outra coisa e é bastante aconselhável que Di Grassi e Glock mantenham suas respectivas namoradas longe deste ávido e rico playboy.

E assim terminamos mais uma análise de Grande Prêmio da temporada de 2010.

Abraço e até a próxima corrida na Malásia.

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